dos dias que passam e dos que já não voltam


Quando 2020 começou, estava tão longe do que aí vinha, e não me refiro à pandemia. O que de mais inesperado me aconteceu foi a perda do meu querido pai. Homem terno e doce, de corpo frágil, não resistiu a mais um internamento. Era a manhã do dia 14 de Agosto quando recebi do hospital o telefonema que ninguém quer receber, precisamente três dias depois de ter perdido, também sem esperar, outro familiar muito próximo, a minha madrinha. Estranha condição essa, a certeza da impossibilidade de voltarmos a estar com quem tanto amamos. Seguiram-se três semanas vividas numa espécie de limbo, entre a realidade e a aceitação da mudança da mesma, de cabeça oca a não conseguir organizar as ideias, os pensamentos, sem foco e com a sensação profunda de estar perdida. Acabara de perder raízes. Quando os nossos partem, levam um pedaço de nós, torna-se difícil voltar a encontrar o chão. Depois há as cerimónias de despedida, as burocracias, as casas a serem despidas das vidas de quem as viveu... dizem que o tempo cura, se assim é resta-me deixá-lo passar. Passei a viver a saudade dos que partiram e cuido dos que cá estão, que não me deixaram sozinha um único segundo nesses dias tão difíceis, igualmente chorando os que tanto amavam. A minha mãe não se apercebeu de nada, porque vive num mundo paralelo onde a tristeza não tem lugar, pelo menos assim parece e eu quero acreditar que assim é.

Este foi o quinto Verão consecutivo sem férias, ou melhor, com os dias destinados a férias preenchidos por outras andanças. Com sabor a férias terei os fins de semana de Setembro e Outubro na minha caravana, enquanto o Sol o permitir. Penso muitas vezes nos meus dias. Nos últimos anos vi projectos do meu lado profissional chegarem ao fim, fiz uma mudança de casa absolutamente imposta, mudei para uma casa onde não gosto de estar, pelo meio apareceu uma pandemia e agora soma-se o desaparecimento de dois pilares da minha pessoa. Bom, isto não deve ser mais do que a vida a acontecer e quanto à sensação de desconforto, com certeza prende-se com a passagem do tempo por mim, a que docemente chama m amadurecimento. Daqui a duas semanas passo a barreira dos cinquenta e dois e, apesar dos estalos que a vida me deu nos últimos anos, estou convicta de que não farei parte do clube das cinquentonas depressivas movidas a ansiolíticos, credo(!), procurar o Nirvana também não está nos meus planos. Vou apenas deixar que o meu caminho siga, aceitando os desafios, fechando ciclos, abrindo outros... só há uma coisa da qual não prescindo, continuar a permitir-me sonhar.

Claramente o meu Lado B vai continuar a ser um dos meus grandes amigos e quem sabe seja desta que consigo alcançar o que tanto tenho sonhado para ele, será?... pois, não faço ideia. Sei que Setembro está aí e a sensação de recomeço também, portanto, vou fazer-me ao caminho e logo se vê o que vou encontrar.


Agora, e ainda sobre os dias que passam, vou mostrar-vos os trabalhos que voltaram às minhas mãos, sendo que uns já consegui terminar, outros vão a caminho. Começo pela minha nova manta a que dei o nome de Flores de Verão. A composição é um original desenhado por mim e o padrão principal é feito com a conhecida "flor africana". O tamanho é próprio para colcha de berço, mas pensei-o de forma a posteriormente, quando a criança crescer e a manta deixar de conseguir aconchegá-la, poder dar-lhe uma segunda vida como painel de parede. A barra final está já a ser executada e em breve mostro-vos o resultado, que com certeza absoluta nos vai fazer muito bem aos olhos.

esta manta está a ser executada com o fio de algodão creativa fino, da anchor


Outro projecto que terminei foram umas barras muito simples em ponto baixo para os quatro pares de chinelos que comprei cá para casa, os tasjon da Ikea. Como são todos iguais, havia que diferenciá-los para que não os trocássemos constantemente e a ideia resultou. Muito simples e funciona muito bem.

usei restos de fios de algodão para fazer as mini barras



Por último, as minhas cortinas kitcsh, feitas para dar um ar de graça à porta da cozinha, que é feia até dizer chega! Pronto, sempre dão um certo colorido à cozinha e os meus olhos agradecem e sorriem quando olham naquela direcção.


também desenhadas por mim, foram executadas igualmente com o fio creativa fino, da anchor

Por este andar, qualquer dia tenho material suficiente para lançar um livro de padrões do meu Lado B!!! isso é que era! ☺

Por hoje é tudo. Um bem haja aos resistentes, que apesar dos meus grandes interregnos no blog continuam a visitá-lo, a ler-me e a apreciar os meus crochets. Confesso que já tenho algum receio de vos dizer que volto aqui muito em breve, mas vou tentar, prometo.



Até já ❤
Ana Lado B


Nota sobre questões técnicas. Ando aborrecida com o facto de terem desaparecido do blog os ícones dos botões "social media". Não estou a conseguir resolver o problema e a somar a isso agora a blogger mudou a versão para utilizadores, mais bonitinha mas mais confusa de ser usada, pelo menos para mim. Posto isto, ando a pensar mudar o blog para outra plataforma e só vos falo disto para o caso de um dia aqui voltarem e verem o aviso de novo endereço, assim já sabem porquê.


6 comentários

  1. Olá querida Ana :)
    Como escreves tão bem , quando eu for grande quero escrever como tu!
    Os meus sinceros sentimentos pela perda dos teus 2 pilares.Como é difícil aceitar a despedida e como te sinto quando escreves a cabeça oca e sem chão.
    Ao mesmo tempo a tua força de querer dar a volta e voltar a encontrar o foco é tão reconfortante de se ler.O facto de te recusares a fazer parte dos que neste estão mundo cada vez mais dormentes e tão dependente de quimicos para poder ultrapassar os desafios da vida !
    Ana muito foco e cor na tua vida para que continues a criar essas peças lindas que são de babar e embelezam até a porta feia.
    Que o sol vos brinde e que encontres a paz e alegria que precisas
    bj grande
    Lulu

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    1. Lulu, que mimo tão grande me dás com o que as tuas palavras dizem <3 muito obrigada!!!

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  2. Olá Ana, não tem sido um ano nada, nada fácil para ti, mas admiro a tua força e resiliência que, apesar dos obstáculos e partidas que a vida te pregou, segues em frente, disposta a sacudir a poeira e continuar o melhor possível. As perdas são muito recentes e agora só resta deixar o tempo passar para ficarem só memórias boas e saudades.
    Mudando de assunto: ADORO, ADORO a manta e o nome faz todo o sentido. Está alegre e despretensiosa como só tu sabes fazer. A cortina tb está o máximo, e qualquer dia vamos falar muito a sério para me fazeres uns individuais assim, com essas flores desencontradas. Um disco pedido, portanto. Hahaha. Pensa nisso, consegues imaginar? eu, totalmente! já até visuaizo a mesa posta...
    Beijinhos, coragem, boa semana.

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  3. Mesmo nada fácil, mas siga a vida!
    Pois claro, a manta, é mesmo à medida dos nossos olhos eheheheh e sobre o disco pedido dos individuais, quando quiseres! Lembro-me de uma foto que me enviaste há uns meses, precisamente com uns individuais feitos de flores deste género. Com certeza que farás uma mesa e pêras, bem colorida, uma alegria para os olhinhos :)

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  4. Parabéns pelo seu lindo e maravilhoso trabalho.
    Ao ver hoje, dia 23-10-2020, o programa "Casa Feliz", recordei-me da minha avó, que já depois dos 80 anos ainda fazia "renda" e meias de lá para um dos filhos. Muitas das "rendas" que tenho no meu enxoval foram feitas por ela.
    Parabéns também pela descrição de um estado de alma, de dias, semanas e meses, deste ano atípico de 2020, em que tudo quase nos foi retirado.
    Continuação, desse pensamento positivo.
    Felicidades.
    Beijinho de uma parceira de 72 anos.

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    1. Olá Avozita! Muito obrigada pelas suas palavras e fico muito feliz por lhe ter trazido boas recordações :) Precisamos todos de pensamento muito positivo para podermos vencer o grande desafio que nos foi imposto este ano. Um abracinho apertadinho para a senhora

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