Vá lá, desmancha isso e volta a fazer! # projecto 1

Em tempos, a acção de desmanchar um trabalho manual para voltar a fazê-lo desmotivava-me. Eram muitas as vezes que não me dava ao trabalho de desmanchar, se estavam a ficar menos bem guardava-os num saco ou numa caixa e esquecia-me deles. Hoje em dia é um gesto impensável.  Deparo-me regularmente com erros ou gafes nos trabalhos, até mesmo quando já vão a mais de meio, mas nunca hesito desmanchá-los. Que tipo de erros? os que mais me aborrecem e quase impossíveis de fazer de conta que não existem, são as medidas mal conseguidas, os pontos que escapam ou os que ficam a mais, capazes de alterar padrões e formatos das peças. Trabalho muito por impulso e portanto faço quase tudo a olhómetro, sem estudos prévios ou instruções e errar é mais do que normal neste tipo de processo. Desmanchar para voltar a fazer, não só se tornou num gesto mecânico como também o entendo como uma excelente forma de aprendizagem. Insistir até conseguir, é uma boa prática. Outro hábito que tenho, precisamente porque nunca sei se pelo caminho vou detectar algo que me fugiu aos olhos, nunca remato as pontas antes dos trabalhos estarem terminados. É verdade que alguns projectos vão sendo rematados por fases, mas os remates finais, os que fixam o trabalho, esses nunca os executo sem ter a certeza absoluta de que nada falhou. A peça tem de ser observada com olho clínico e se for uma peça grande dá-la a ver a outros olhos também pode ajudar. Quando os nossos olhos se habituam a determinado padrão, por vezes é difícil detectarem os defeitos, portanto uma ajuda na observação é sempre bem vinda. Voltemos às pontas. Não escondo que é assustador ver dezenas ou, pior ainda, centenas de pontas por rematar, mas  imaginem lá o alívio que é quando se apercebem que têm de desmanchar e a tarefa é-vos facilitada porque as pontas estão todas prontas a serem puxadas sem lesar o resto da peça. Compensa. A ansiedade de querermos ver o projecto concluído o quanto antes pode levar-nos a pôr a carroça à frente dos bois. Nestas andanças precisamos de dar tempo ao que estamos a fazer. Nada se faz, tudo se vai fazendo. 
Hoje, mostro-vos um projecto que trago em mãos que é um protótipo daquilo que pode vir a ser uma  nova manta fazbemaosolhos. Desmanchei tudo o que já tinha feito para voltar a fazer.


Iniciei-a há mais de um ano, mostrei-vos os primeiros hexágonos aqui.  Foi pensada para a minha cama, fiz vinte hexágonos e parei. Recentemente voltei a pegar-lhe, juntei os hexágonos e franzi o nariz. Os meus olhos já não gostavam do que viam. Estava tão certa de que não era aquilo que queria que demorei fracções de segundos a pegar no primeiro hexágono e a desmanchá-lo. Depois os outros, um por um. Dos pequenos novelos voltaram a nascer hexágonos, mas agora mais pequenos e em vez de ponto cheio, em ponto granny. A escolha da cor para os unir, entre o preto e o cinzento, embora goste das duas opções, desta vez surgiu com certezas absolutas. Escolhi o cinzento.


Outra decisão que tomei foi a de fazer um protótipo do modelo e padrão, não a manta com o tamanho certo. A causa prende-se com o fio. Aliás, reparem e conseguem perceber pela foto acima como os hexágonos têm um aspecto "mole", meio deformado. Ainda não estavam bloqueados, mas após o processo não melhoraram muito. Para fazer a manta propriamente dita não tenho dúvidas que escolherei um fio de qualidade. Quem ganha com estas experiências? a boa da Helga (a cadela) que vai ganhando um perfeito enxoval para se enroscar.


Neste momento já estou a unir os hexágonos, teremos protótipo de manta não tarda nada. Hoje fico por aqui, mas voltarei, se possível ainda esta semana, para vos mostrar um outro projecto que foi totalmente desmanchado quando ia já a mais de meio, agora já concluído.  Mais um que me deixa a pensar que valeu mesmo a pena desfazer tudo o que já tinha feito para voltar a construí-lo. Penso que é muito mais desmotivante colocar de parte um trabalho mal executado porque veste mal ou porque está com um formato esquisito, do que voltar a pegar nos materiais, reaproveitá-los e voltar a fazer até os nossos olhos gostarem do que vêem. Compensa, não desperdiças nem tempo, nem materiais e acabas por ficar com uma peça à qual dedicaste o tempo necessário para que ficasse bem, a tua atenção nas correcções e tudo com o carinho de querer fazer bem.
E vocês, desmancham para voltar a fazer?



Até já!
Ana Lado B



4 comentários

  1. Esta manta vai ficar tãããão gira! Adorei! :)

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    1. E está mesmo gira! mostro-a em breves dias, vais ver como ficou tão bem :)
      Obrigada!

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  2. Olá Ana, custa desmanchar mas também já me aconteceu. Não adianta nada teres algo feito, mas mal feito aos nossos olhos. Acaba como disseste por ir parar ao monte e nunca ser usado. E gera frustração, ainda para mais. Mais vale desfazer e recomeçar. Passado esse instante já nem te lembras mais da desilusão e o trabalho flui e, aí sim, dá prazer. beijinho, Ana, essa colcha, promete!

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    1. Acho que é muito pior sentirmo-nos desmotivados por termos feito algo que saiu "mal", do que reaproveitar todo esse material e repetir o tempo pacientemente para voltar a fazer até sair "bem". Aliás, até pode ser um processo bastante relaxante, ao contrário dos primeiros minutos, quando nos deparamos com os erros e ficamos à beira de um ataque de nervos eheheh

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